top of page
  • Foto do escritorVinícius Aguiar

Gírias e dialetos criados pela comunidade LGBTQIA+ e seus significados

Há um dialeto próprio, conhecido como pajubá, além de memes que são frequentemente englobados. O vocabulário LGBT é recheado de palavras e gírias divertidas que fazem parte do Pajubá, nome dado à linguagem criada pela comunidade LGBT. Entretanto, ao lado de expressões populares como “lacre”, “close”, “ir de Angélica”, existem conceitos importantes relacionados à compreensão da orientação sexual e da identidade de gênero.

Esse artigo tem como interesse funcionar como um glossário de utilidade pública, um pequeno guia prático para consulta quando nos deparamos com alguma dúvida. Ao longo da leitura, ao mesmo tempo em que encontramos termos engraçados e criativos, é possível entender melhor os outros, descobrindo significados como androginia, assexual, agênero, não-binário, kink, drag, travesti, pansexual etc.

Alguns termos ficaram bastante populares, como amapô, que significa mulher, e bofe, o mesmo que homem. Até no ENEM o pajubá já apareceu, em 2018, e há uma longa lista de termos que fazem sucesso. Confira alguns deles e o que significam:

  • Arrasou - Quando alguém manda muito bem em algo;

  • Aloka - Como um "que loucura!", geralmente usado ao falar algo absurdo ou indecente;

  • Alice - Como Alice no País das Maravilhas, quando alguém é muito perdido ou vive em outro mundo;

  • Amapô - O mesmo que mulher;

  • Angélica - O mesmo que táxi, palavra frequente na expressão “ir de Angélica”, isto é, pegar um táxi;

  • Atacada - Quando alguém está nervoso com algo ou alguma situação;

  • Auge - Quando alguém faz algo muito incrível;

  • Babado - Fofoca ou algo muito legal. Por exemplo: "Essa roupa tá muito babado!";

  • Bofe - Homem;

  • Bagaceira - Algo não muito legal, de baixo nível

  • Bee (ou Bi) - Para se referir a outro amigo gay;

  • Berro (ou Grito)- Quando alguém fala algo muito engraçado ou impactante;

  • Bicha - O mesmo que "amiga";

  • Biscoitar - Comportamento em que o praticante faz de tudo para chamar a atenção e receber elogios, chamados de biscoito, especialmente nas mídias sociais; oferecimento esdrúxulo em busca de receber elogios e atenção; muitas vezes, o termo aparece junto a fotos sensuais, sem roupa ou seminudes;

  • Caminhoneira - Lésbica fora dos padrões sociais de feminilidade;

  • Carão - Fazer pose para uma foto ou debochar de alguém;

  • Destruidora - Quando alguém arrasa muito. Por exemplo: "Essa bicha maquiadora é muito destruidora!";

  • Demissexual - Tipo de orientação sexual caracterizada pela existência de laço erótico apenas após a formação de uma ligação emocional ou intelectual intensa;

  • Equê - Algum tipo de mentira, enganação ou invenção;

  • Elas que lutem - "O problema é das outras pessoas";

  • Eu que lute - "O problema é meu" ou "me ferrei";

  • Fariam? - Para perguntar se ficariam com alguma pessoa ou fariam algo;

  • Fazer a Pêssega - Gíria que indica o comportamento de se fazer de bobo, desentendido, perdido, abestalhado; fazer a Kátia;

  • Ferver - Curtir muito;

  • Gongar (ou "jogar um shade") - Falar mal de alguém;

  • Hino - Algo que é muito bom. Por exemplo: "Essa música é um hino!";

  • Ícone - Alguém admirado;

  • Jantou (ou Deitou) - Quando alguém fala algo muito incrível e "cala a boca" da outra pessoa;

  • Lacrou - Quando alguém fala ou faz algo muito bom ou considerado certo;

  • Lash Ato de bater cabelo buscando fazer a egípcia ou diminuir alguém, permanecendo sempre superior;

  • Meu momento - Algo que tem a ver a com pessoa ou o momento dela de brilhar;

  • Mitorô - A palavra indica o ato de urinar;

  • Mona (ou Mana) - Muito utilizada entre gays, pode servir para se referir a mulheres, homossexuais afeminados ou amigos muito próximos;

  • Não dá pra te defender - Quando alguém faz algo muito absurdo;

  • O berro que eu dei - Resposta para ago engraçado/animado;

  • O bico do peito chega a coçar - Quando alguém vê algo (ou alguém) muito excitante ou empolgante;

  • Old que sim (ou old que não) - Algo como "é claro que sim/é claro que não";

  • Passada - Quando alguém está chocado com algo;

  • Pisar - Outra forma de dizer que alguém arrasou muito;

  • Pisa menos - "Para de humilhar";

  • Poc - O mesmo que "gay";

  • Querida - Modo debochado de se referir as pessoas;

  • Recalque - Inveja;

  • Seria meu sonho? - Quando alguém quer muito algo;

  • Shade - A palavra vem do inglês e significa sombra; é muito utilizada na expressão “jogar shade” para indicar alguma indireta ou sarcasmo dirigido a outra pessoa; comentário ácido, venenoso;

  • Trabalhada - Quando alguém está muito bonita. Por exemplo: "Bicha, você tá toda trabalhada pra boate!";

  • Tiro - Algo muito impactante, geralmente de forma positiva. Por exemplo: "Essa foto sua é um tiro!";

  • Tombado - Quando algo é muito impactante, mas geralmente de forma negativa. Por exemplo: "Meu trabalho hoje me deixou tombada!";

  • Tour - O mesmo que "assunto";

  • - Algo ruim, desagradável;

  • Você prometeu - Quando alguém não faz algo, mesmo que não tenha prometido nada;

  • Você quer? - Quando alguém tem algo e quer fazer inveja.

LGBTQIAP+: Você sabe o que essa sigla significa?

O Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade e a Secretaria de Comunicação Social do TRT-RS explicam a história e o significado de cada letra da sigla. Uma ação alusiva ao Mês da Diversidade no TRT-RS, celebrado em julho.

Após um episódio em que a comunidade gay nova-iorquina – na verdade, protagonizado por mulheres transgêneros pretas, sendo o nome mais conhecido o da travesti Marsha P. Johnson – resistiu às investidas policiais no Bar Stonewall, em 28 de junho de 1969, o Dia Internacional do Orgulho Gay, como ficou popularmente conhecido e passou a ser celebrado no mundo todo. Desde então, a luta contra a discriminação e pela conquista de direitos vem ganhando mais espaço e, também, novas formas de identificação.

Na década de 1980, a sigla que identificava o movimento era GLS, em uma referência a gays, lésbicas e simpatizantes. Nos anos 90, passou a ser GLBT, com a inclusão de bissexuais e pessoas trans. Como a representatividade dos homens gays sempre foi mais evidente, protagonizando o movimento da comunidade, fez-se necessária a alteração para LGBT, com o L encabeçando a sigla e dando mais visibilidade às mulheres lésbicas. Atualmente, novos termos foram incluídos e passou-se à denominação LGBTQIAP+. Entenda, a seguir, o que representa cada uma das letras e o sinal de soma:

L: Lésbicas - É uma orientação sexual e diz respeito a mulheres (cisgênero* ou transgênero) que se sentem atraídas afetiva e sexualmente por outras mulheres (também cis ou trans). Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras mulheres para se identificarem como lésbicas.

Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o seu "gênero de nascença".

G: Gays - É uma orientação sexual e se refere a homens (cisgênero ou transgênero) que se sentem atraídos por outros homens (também cis ou trans). Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do gênero masculino para se identificarem como gays.

A palavra “gay” vem do inglês e naquele idioma, antigamente, significava “alegre”. A mudança do significado para homossexual remonta aos anos 1930 e se estabeleceu nos anos 1960 como o termo preferido por homossexuais para se autodescreverem. A palavra Gay, no sentido moderno, se refere tipicamente a homens; enquanto lésbica é o termo padrão para mulheres homossexuais.

B: Bissexuais - Bissexualidade também é uma orientação sexual; bissexuais são pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente tanto com pessoas do mesmo gênero. quanto do gênero oposto (sejam essas pessoas cis ou trans). O termo “Bi” é o diminutivo para se referir a pessoas bissexuais.

T: Transexuais, Transgêneros, Travestis - Este é um conceito relacionado à identidade de gênero e não à sexualidade, remetendo à pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. As pessoas transgênero podem ser homens ou mulheres, que procuram se adequar à identidade de gênero. Algumas pessoas trans recorrem a intervenções médicas, que vão da terapia hormonal à cirurgia de redesignação sexual, mas isso é pessoal e não são todas as pessoas transgênero que optam por essas intervenções - até por razões financeiras. Para se referir a elas, são usadas as expressões homem trans e mulher trans.

As travestis, por sua vez, são mulheres trans que preferem ser chamadas dessa maneira por motivos políticos, de resistência, já que este termo está atrelado à marginalização das mulheres trans, que tinham como única alternativa a prostituição como modo de sobrevivência. Muitas mulheres trans se identificam atualmente como travestis justamente para tirar o estigma da palavra.

Deste modo, mulher trans é a pessoa que se identifica como sendo do gênero feminino embora tenha sido biologicamente designada como pertencente ao sexo/gênero masculino ao nascer. O homem trans é a pessoa que se identifica como sendo do gênero masculino embora tenha sido biologicamente designada como pertencente ao sexo/gênero feminino ao nascer.

Q: Queer - É um termo da língua inglesa usado para qualquer pessoa que não se encaixe na heterocisnormatividade, ou seja, que não se identifica com o padrão binário de gênero, tampouco se sente contemplada com outra letra da sigla referente a orientação sexual, pois entendem que estes rótulos podem restringir a amplitude e a vivência da sexualidade.

O termo “queer”, traduzido para o português, literalmente, quer dizer "estranho", "ridículo" ou "excêntrico", e foi ressignificado pela comunidade, assim como várias outras palavras que antes eram usadas como xingamentos.

Ainda, quando a letra Q aparece ao final da sigla LGBTQIAP+ também pode significar questioning, referindo-se a corpos que, quando entendem como funciona o sistema, passam a questionar sua posição dentro dele.

I: Intersexo - É uma pessoa que nasceu com a genética diferente do XX ou XY e tem a genitália ou sistema reprodutivo fora do sistema binário homem/mulher. Atualmente, são reconhecidas pela ciência pelo menos 40 variações genéticas, dentre elas XXX, XXY, X0, etc.

Ainda é comum a imposição por parte da família, ou prescrição médica, de terapia hormonal e a realização de cirurgia, destinada a adequar aparência e a funcionalidade da genitália, muitas vezes antes dos 24 meses de idade ou até mesmo logo após o nascimento. Contudo, uma parcela significativa das pessoas submetidas a este processo relatam que não se adaptaram e rejeitaram o sexo imposto ao nascimento, respaldando uma conduta terapêutica que defende o adiamento da intervenção até que o sujeito possa participar na tomada da decisão.

Essa parte da sigla é muito importante para que nós entendamos que corpo físico não define gênero, nem sexualidade.

A: Assexual - É um indivíduo que não sente nenhuma atração sexual por qualquer gênero. Isso não significa que não possam ter relacionamentos ou desenvolver sentimentos amorosos e afetivos por outras pessoas.

P: Pansexualidade - É uma orientação sexual em que as pessoas desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero.

Há controvérsias ainda em relação à diferença entre a bissexualidade e a pansexualidade, porque elas, no fim das contas, querem dizer que uma pessoa se atrai por outra independentemente de seu gênero. A diferença está na identificação de cada indivíduo, podendo este ficar mais confortável em se dizer bi ou pan.

+: Demais orientações sexuais e identidades de gênero - O símbolo de soma no final da sigla é para que todos compreendam que a diversidade de gênero e sexualidade é fluida e pode mudar a qualquer tempo, retirando o “ponto final” que as siglas anteriores carregavam, mesmo que implicitamente. Os estudos de gênero e sexualidade mudam e vão continuar mudando e evoluindo, assim como qualquer outro campo das ciências.

Não-binariedade: Apesar de não constar explicitamente na sigla, é uma identidade de gênero em que as pessoas não se sentem em conformidade com o sistema binário homem/mulher, podendo fluir entre as infinitas possibilidades de existência de gênero sem seguir um padrão, performance ou papel pré-estabelecido pela sociedade.

Drag Queen - Não faz parte da sigla e se refere unicamente a uma expressão artística, podendo ser performada por mulheres ou homens, cis ou trans, pessoas fora do binarismo de gênero e totalmente independente de orientação sexual. Essa arte geralmente tende a exacerbar as características impostas ao binarismo de gênero, com performances em tom de sátira, justamente como uma crítica à sociedade.

E, ainda que não conste da sigla, o Manual de Comunicação LGBTI+, traz a definição de Aliado: “São pessoas que, na hora do confronto, estão ao lado da comunidade LGBTQIAP+, rejeitando a posição isenta ou neutra na hora de defender as suas pautas.

Como consideração final - porém não menos importante - vale salientar que os povos originários do continente americano tinham uma organização de sexo e gênero fora do binarismo, podendo ser tripartite, quaternário, quíntuplo etc. Esse sistema foi destruído a partir da colonização de seus territórios.

bottom of page